segunda-feira, 14 de maio de 2007

O julgamento de Posada Carriles


Há tempos o cubano naturalizado venezuelano Luis Posada Carriles é considerado o inimigo público número 1 do regime castrista. É possível afirmar com boa dose de segurança que Fidel nutre mais apreço por alguns presidentes norte-americanos (John Kennedy ou Jimmy Carter, por exemplo) do que por seu compatriota.

Posada Carriles é um dos autores intelectuais da explosão do DC-8 da Cubana de Aviación que matou 73 pessoas em 1976. Além disso, ele seria responsável por diversos atentados em Cuba, além de planejar ações para matar Fidel Castro.

Posada Carriles ficou preso na Venezuela de 1976 a 1985, quando escapou pela porta da frente da penitenciária. Hoje, ele vive em liberdade nos Estados Unidos, protegido pelo status de exilado político. O governo americano nega pedido de extradição feito pelo governo venezuelano.

Nesta segunda-feira, um "tribunal antiterrorista" da juventude cubana decidiu abrir um "julgamento político público" contra Posada Carriles. É um gesto pirotécnico, uma vez que os EUA e o próprio terrorista dão de ombros para o veredicto. Mas vale pelo simbolismo do gesto, e pela memória que ele recupera.

domingo, 13 de maio de 2007

Morre José Barros, autor de "La Piragua"

Morreu no sábado o maestro José Barros, autor de mais de mil músicas, dentre as quais o clássico "La Piragua", uma das mais famosas cumbias já feitas.

Quem quiser saber um pouco mais sobre José Barros, a rádio Caracol fez um especial com texto e áudio. Para quem quer apenas ouvir a música, tem uma versão com sotaque catalão na Rádio UOL.

Abaixo, a letra da música.

Me contaron los abuelos que hace tiempo
navegaba en el Cesar una piragua
que partía de El Banco viejo puerto
a las playas de amor en Chimichagua.
Capoteando el vendaval se estremecía
e impasible desafiaba la tormenta
y un ejército de estrellas la seguía
tachonándola de luz y de leyenda.
Era la piragua de Guillermo Cubillos.
era la piragua.
Era la piragua.
Doce bogas con la piel color majagua
y con ellas el temible Pedro Albundía
en las noches a los remos arrancaban
su melódico rugir de hermosa cumbia.
Doce sombras ahora viejas ya no reman
ya no cruje el maderamen en el agua
solo quedan los recuerdos en la arena
donde yace dormitando la piragua.
Era la piragua de Guillermo Cubillos.
era la piragua.
Era la piragua.

A volta de Fidel?

O site da Economist especula sobre o futuro de Fidel Castro. Em primeiro lugar, há sinais inequívocos de sua recuperação física. Além disso, seu desejo de participar do processo político é inegável. A pergunta é pertinente: Fidel Castro voltará ao poder em Cuba?

Não farei aqui nenhum exercício de futurologia. Mas o cenário mais provável é o retorno de Fidel em funções diferentes das ocupadas antes de seu afastamento ocorrido em 1º de agosto de 2006. Seu irmão Raúl Castro, presidente interino do Conselho de Estado, tem promovido uma transição serena na estrutura de poder em Cuba, trocando o foco personalista pelo fortalecimento das instituições. Essa passagem pode dar novo fôlego ao PCC, e dificilmente poderia ser feita por Fidel Castro.

O retorno de Fidel Castro à presidência significaria um retrocesso nesse sentido. Ainda que não haja um culto à imagem de Fidel em Cuba, é inegável que sua onipresença no poder inibe a ascensão de outras lideranças políticas de peso.

A grande dúvida sempre foi saber se o regime cubano conseguiria sobreviver sem Fidel Castro. Ao que tudo indica, "El Comandante" viverá o bastante para saber a resposta.

sábado, 12 de maio de 2007

Garganta profunda

"Garganta profunda" era o codinome do informante dos jornalistas Bob Woodward e Carl Bernstein no escândalo de Watergate durante o governo de Richard Nixon.

Salvatore Mancuso é o "garganta profunda" da vez na Colômbia.

Um dos principais líderes da Autodefesas Unidas de Colombia (AUC), Mancuso falou por oito horas com a consultora internacional Natalia Springer, colunista do periódico Un Pasquín. A repercussão atingiu outros veículos do país, como a revista La Semana.

Durante a entrevista, Mancuso fez várias revelações que comprometem a administração Uribe. Veja algumas delas:

- Durante as negociações de desmobilização, a situação dos sequestrados, dos assassinados, dos feridos, dos doentes, dos desaparecidos e dos prisioneiros foi completamente negligenciada tanto pelo governo quanto pelas lideranças da AUC. Era como se eles não existissem.

- Segundo Mancuso, a AUC operava com o auxílio de muitos voluntários civis, na proporção de dois civis para cada combatente. A pergunta que fica é: qual o real impacto da desmobilização, uma vez que dois terços dos envolvidos nos combates não participaram do processo de pacificação?

- Todas as companhias de frutas (as chamadas "bananeras") pagavam uma espécie de pedágio para os paramilitares.

- O então presidente da Federación Nacional de Comerciantes (Fenalco), Sabas Pretelt, visitou as lideranças da AUC para demonstrar apoio à ação do grupo.

- Bancos facilitavam a lavagem de dinheiro de narcotraficantes.

- Em alguns casos, os paramilitares realizavam ações conjuntas com as Forças Armadas.

Detido em uma penitenciária de segurança máxima, Mancuso diz ter medo de morrer. É fácil de entender o porquê.

A popularidade de Uribe

O Terra Magazine publicou na quarta-feira um balanço interessantíssimo sobre o governo de Álvaro Uribe na Colômbia, um dos mais bem avaliados do continente. Relaciono abaixo os pontos principais do texto, mas recomendo a leitura da íntegra.

- O "efeito teflon" do presidente, que é alvo de sérias acusações e mesmo assim mantém sua popularidade ilesa, seria efeito de um processo de degradação moral da sociedade colombiana. Adotou-se uma "ética mafiosa" com a ascensão dos cartéis de narcotráfico, o que fez com que atos ilícitos e enriquecimento ilegal passassem a ser mais tolerados.

- Devido à enorme abstenção eleitoral (até 50%), Uribe foi reeleito em 2006 com apenas 25% dos votos.

- A oposição denuncia que, em uma fazenda de propriedade do presidente foram torturadas e massacradas várias pessoas.

- Há fotos do irmão de Uribe, Santiago, com Fabio Ochoa, chefe do Cartel de Medellín nos anos 90.

- Dez parlamentares uribistas estão presos por paramilitarismo, acusados pela Corte Suprema de Justiça. Outros estão fugitivos.

- No dia 30 de abril passado, a American Rights Watch denunciou concessões a ex-paramilitares e o agravamento da situação do país em termos de direitos humanos.

- Durante o ano de 2006 foram assassinados na Colômbia 72 dirigentes sindicais.

- A guerra com as FARC piora no sul do país com novos deslocamentos que se unem à cifra imensa de 3 milhões de deslocados nos últimos dez anos. Em muitas regiões do país apareceram novos grupos paramilitares, especialmente as chamadas Águias Negras. Há denúncias de cumplicidade do Estado nesse caso.

O texto não aborda, mas é inegável que a queda nos indicadores de violência (sobretudo urbana) contribuem muito para o chamado "efeito teflon" de Uribe.

Começando do princípio

O espaço dado pela imprensa brasileira para a cobertura jornalística dos demais países da América Latina é insignificante. Ridículo. Injustificável. O objetivo deste blog é simples: registrar alguns fatos que considerar relevantes e fazer breves comentários. Simples assim. Adianto desde já que não vou atualizar este espaço tanto quanto gostaria, mas me comprometo a dedicar ao blog mais tempo do que deveria.